sexta-feira, 7 de março de 2014

solilóquio do embotamento.

Eu acho que quero morrer.

Não me entenda mal. Não é como se eu não quisesse mais viver. Não é como se eu fosse me matar. Só acho que morrer seria mais... Adequado. Sei lá.

De uns tempos pra cá, a vida tem perdido cada vez mais seu brilho pra mim. Nada me comove. Nada me emociona. Não sinto nada diferente. Não quero fazer nada. Não quero ser nada. Não quero o que eu tenho. Não sinto saudade do que tive. Não anseio pelo que vou ter.

O termo que a gente usa na medicina pra isso é... Embotamento. Isso. Embotamento. Uma sensação de não sentir. Uma vida vivida sem viver.

Durante a depressão, tudo o que eu queria era parar de sentir. Queria que as emoções dentro de mim sumissem. Queria criar uma parede intransponível entre a agonia, a tristeza, o desespero e eu mesma. Usei remédio pra isso durante algum tempo. O antidepressivo nada mais faz do que te colocar pra morar dentro de uma bola de equilíbrio e tranquilidade - e para alguém que sentia e sofria o tempo todo, foi um alívio tremendo. Poder respirar. Poder viver.

Mas aí. Aí não sei. Depois de tudo, eu me acostumei a ter medo de sentir.  Acho que meu subconsciente associa sentir e sofrer. Pouco a pouco, fui me treinando para não deixar mais nenhuma das duas coisas acontecerem. Me fechar pras emoções externas era a única forma de sobreviver.

Só que sobreviver não tem sentido se você não tem vontade de viver. Sobreviver assim, sem cor e  sem som e sem luz e sem sabor, só pra sobreviver, é tão vazio quanto morrer.

A diferença é que morrer é mais rápido. E provavelmente muito mais efetivo.