Eu acho que quero morrer.
Não me entenda mal. Não é como se eu não quisesse mais viver. Não é como se eu fosse me matar. Só acho que morrer seria mais... Adequado. Sei lá.
De uns tempos pra cá, a vida tem perdido cada vez mais seu brilho pra mim. Nada me comove. Nada me emociona. Não sinto nada diferente. Não quero fazer nada. Não quero ser nada. Não quero o que eu tenho. Não sinto saudade do que tive. Não anseio pelo que vou ter.
O termo que a gente usa na medicina pra isso é... Embotamento. Isso. Embotamento. Uma sensação de não sentir. Uma vida vivida sem viver.
Durante a depressão, tudo o que eu queria era parar de sentir. Queria que as emoções dentro de mim sumissem. Queria criar uma parede intransponível entre a agonia, a tristeza, o desespero e eu mesma. Usei remédio pra isso durante algum tempo. O antidepressivo nada mais faz do que te colocar pra morar dentro de uma bola de equilíbrio e tranquilidade - e para alguém que sentia e sofria o tempo todo, foi um alívio tremendo. Poder respirar. Poder viver.
Mas aí. Aí não sei. Depois de tudo, eu me acostumei a ter medo de sentir. Acho que meu subconsciente associa sentir e sofrer. Pouco a pouco, fui me treinando para não deixar mais nenhuma das duas coisas acontecerem. Me fechar pras emoções externas era a única forma de sobreviver.
Só que sobreviver não tem sentido se você não tem vontade de viver. Sobreviver assim, sem cor e sem som e sem luz e sem sabor, só pra sobreviver, é tão vazio quanto morrer.
A diferença é que morrer é mais rápido. E provavelmente muito mais efetivo.