sábado, 6 de setembro de 2014

inutilia truncat.

uma das coisas mais difíceis que eu tive que aprender a fazer na minha vida foi aprender a me livrar do que não me faz bem. sendo bem honesta, talvez eu ainda não tenha dominado essa arte. 

sou uma pessoa de hábitos. previsível e confiável. gosto de acordar sempre no mesmo horário e realizar as minhas tarefas numa ordem bem estabelecida. tenho os mesmos amigos há anos e fazemos sempre as mesmas coisas. escrevo os prontuários na mesma ordem, com a mesma paragrafação, desde a propedêutica. Sempre leio a revista do final pro começo. pensar em fazer qualquer coisa que pertence à minha rotina de outra maneira é muito difícil pra mim - mas às vezes é necessário.

amizades, por exemplo. algumas amizades são tóxicas. mesmo sabendo disso, eu sempre fui do tipo que queria manter os amigos. já engoli muito sapo fazendo o que os outros queriam, pedindo desculpas sem ter feito nada, lutando pra manter amizades que obviamente não me acrescentam nada. levei alguns anos de terapia pra deixar de fazer isso. hoje, minhas amizades passam por uma análise honesta e criteriosa toda vez que existe algum tipo de crise. eu estou errada? a pessoa está errada? essa amizade está me fazendo bem? se a última pergunta tiver uma resposta negativa, o amigo em questão vai automaticamente pra geladeira. sem rancor. sem briga. sem mágoa. só cortando o mal pela raiz pra evitar que ele se prolongue.

hábitos. hábitos são muito difíceis de serem mudados. trabalho semanalmente na terapia em tentar ser mais flexível com eles, mas tenho falhado miseravelmente nessa tarefa. preciso aprender a me libertar mais, a deixar de lado tudo o que me deixa chata, amarga, irritada e dar espaço pro que me faz uma pessoa melhor. mas como deixar de fazer as coisas da maneira que você sempre fez? não sei. preciso aprender. 

mas, pra mim, o mais difícil é mudar a forma como lido com os meus relacionamentos. sou a pessoa mais cabeça-dura do universo quando me apaixono. gasto tempo, dedicação e amor com o objeto da minha afeição, mas mesmo com todos os esforços, às vezes as coisas não dão certo. e é tão difícil se livrar de algo que você idealizou, mesmo quando você sabe que não vai dar certo... tão doloroso. é fisicamente dolorido ter que dar adeus a alguém que você amou porque essa pessoa já não te faz bem, não te faz feliz - mesmo quando se tem consciência de que essa é a única saída antes de um relacionamento legal virar um amontoado de rancor, de ódio, de mágoa. talvez por isso eu evite me apegar excessivamente às pessoas. porque sei que, cedo ou tarde, inutilia truncat será a única saída.