segunda-feira, 7 de outubro de 2013

cartesianas.

quando eu era pequena, minha mãe resolveu que eu precisava fazer terapia. aparentemente, a psicóloga da escola disse pra ela que eu me isolava muito das outras crianças, não gostava de brincar, e minha digníssima progenitora achou que era válido colocar uma menininha de 5 anos em sessões semanais com a psicóloga. eu não lembro de muita coisa dos dois anos que eu passei indo conversar com a tia ana. era legal e tal, mas acho que não aprendi nada a não ser a fazer listas. muitas listas. eu tinha acabado de aprender a escrever [aprendi a ler e escrever com 4 anos, sou precoce, beijos] e lembro que a tia ana me incentivava a fazer listas. meus desenhos preferidos. o nome dos meus amiguinhos. as cores que eu mais gostava. eu nunca entendi direito o porquê, mas depois que aprendi a fazê-las, nunca mais parei.

aí às vezes, quando eu estou sem nada pra fazer, eu gosto de inventar categorias de listas. por exemplo, teve uma época na minha vida em que eu só fazia listas de personagens preferidos - personagens de livros, personagens de filmes, personagens históricos, personagens de músicas. aí depois entrei numas de gostar de rankear minhas músicas favoritas - por banda, por estilo, por ano de lançamento. durante um tempo, estive numa fase de listar os prós e contras de tudo na minha vida [prós de estudar: passar sem final, IRA alto. contras de estudar: atrasar minhas séries, menos tempo pra dormir]. recentemente, passei a listar pessoas. não pessoas tipo rock stars, ou reis e rainhas. só pessoas. meus colegas. meus amigos. minha família. minhas pessoas preferidas. as que eu menos gosto. aquelas que eu gostaria que estivessem mais presentes na minha vida. tipos de pessoas. pessoas e pessoas e pessoas. gente.

gosto de listas porque elas tornam tudo mais fácil de ser interpretado, de ser comparado. gosto porque elas são simples, limpas e diretas. gosto porque às vezes eu sou tão confusa, às vezes tudo se mistura tanto dentro de mim, que é um alívio enorme poder compartimentalizar, pegar o que é importante e deixar pra depois o que não importa. nada é mais libertador do que pegar as coisas e colocá-las sob uma análise racional. nada me acalma tanto quanto transformar tudo o que eu não entendo em algo que eu possa interpretar.

a vida parece muito sob controle quando eu coloco as coisas nas listas. é como se escrever em post-its coloridos transformasse meus problemas em funções, e as respostas deles ficassem tão claras quanto pontos num plano cartesiano.

pena que nem tudo na vida pode virar lista.

pena que quase nada na vida é cartesiano.




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