domingo, 22 de junho de 2014

sobre fuscas e harley davidsons.

na primeira vez em que eu te vi, você estava numas de the doors com aquele cabelo parecido com o do slash, uns jeans surrados que pareciam mais velhos do que os seus 15 anos e jaqueta de couro em pleno verão. eu não gostava do seu cabelo, só que gostei de você e decidi naquele momento que aquele beijo que você me deu no ginásio da escola seria um daqueles beijos que eu jamais esqueceria. eu era uma menina esquisita de 17 anos e cabelo cherry bomb, e você era tão descoladinho e away com as suas camisas de banda que parece impossível que sejamos ainda as mesmas pessoas.

na primeira vez em que eu me apaixonei por você, eu já era muito madura com meus 18 anos recém completados e te achava um pirralho intrometido tocando baixo naquela sua bandinha de rock. eu ficava irritadíssima pensando que um rapaz quase imberbe me fazia pensar em romance - especialmente porque eu sempre soube que um romance entre a gente não tinha nada a ver. deixei passar, você nunca soube, e a gente não perdeu nada por isso.

na primeira vez em que a gente transou, foi desejo e nervosismo e culpa e calor. eu lembro do lençol azul da sua cama e do gosto de tequila na sua boca, mas tudo foi tão esquisito que o resto das memórias se perde numa onda de nervosismo que faz meu estômago revirar. foi bom, eu sei que foi. sempre é bom entre nós. gosto do seu cheiro, gosto do seu gosto, gosto da sua pele e da sua boca, e a gente tem essa química estranha que faz ter vontade de nunca mais sair da sua cama.

na primeira vez em que eu te perdi, eu sequer notei o que havia acontecido. estava sofrendo um dos dramas que só existem na minha cabeça e não notei que você estava ao meu lado, com seu humor ácido e seus braços quentes. e aí alguém soube ver melhor do que eu e, sem eu nem perceber, você tinha ido embora. você não sabe, mas foi doloroso e confuso te perder, porque quando você foi embora, fiquei sentindo como se eu mesma tivesse me perdido.

e agora, na primeira vez em que escrevo sobre você, eu nem sei por que o faço. I mean. teoricamente, eu nem gosto de você. você não sabe direito o que quer da vida. você não tem foco e nem prioridades. num dia gosta de fusca, no outro compra uma harley davidson. você é mulherengo e tem o péssimo hábito de trair suas namoradas comigo. você é independente demais. tem amigos demais. é carismático demais. bebe demais. as nossas personalidades são tão diferentes que parece impossível que ainda estejamos nessa dança desencontrada um pela órbita do outro depois de todos esses anos. mas estamos.

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