segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

i thought it was a bird, but it was just a paper bag.

 é engraçado como a vida é  às vezes.

você planeja passar no vestibular aos 17, se formar aos 23, fazer especialização e residência, noivar aos 27, casar aos 28, ter filhos aos 30. eu estou com 36 e todos, absolutamente todos os projetos de vida que fiz deram errado.

eu não entrei na faculdade aos 17, precisei de 3 anos de cursinho. com isso, me formei aos 26, e não aos 23. comecei a residência e inúmeras pós e especializações e nunca terminei nenhuma. não conheci o amor da minha vida, não casamos e não tive filhos.

parece que as coisas são tão mais fáceis pra algumas pessoas, né? todo esse teatro que vivemos parece mais suave, mais tranquilo pra algumas pessoas. talvez seja o borderline falando, mas eu sinto que tudo é tão mais difícil pra mim. não quero parecer ingrata ou pessimista, mas é assim que eu me sinto.

como se estivesse correndo atrás de coisas que são impossíveis pra mim.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

mais um dia.

 mais um dia tentando manter a constância das publicações.

a intenção desse blog é puramente egoísta. é um modo de registrar meus pensamentos, minhas emoções e tentar me manter focada no que importa, que sou eu, minha família, meus (poucos) amigos e meu bem estar.

ontem pelo segundo dia seguido eu fiz comida em casa. eu não fazia comida em casa fazia uns 4 meses, e dois dias seguidos cozinhando era algo de que eu mal me lembrava de ter feito no último ano. quarta eu tinha feito arroz, feijão e legumes, acabei com tudo em um dia. ontem foi uma coisinha mais simples, um macarrão com salsicha que por mais trivial que seja, é uma comida que me traz saudade da infância, de casa. também fui no mercado e comprei comida de verdade, carne, frutas, legumes, arroz, feijão, pra ver se me engajo em cozinhar um pouco mais em casa e parar de gastar tanto com comida pronta e ultraprocessados. ah, e comprei um ferro de passar novo, que o meu tinha queimado.

ainda tenho um problema que é a sensação de vazio crônico que toma conta de mim depois de uma determinada hora. até umas 19 horas eu vou bem, focada, sem vontade de transgredir, mas depois desse horário me dá uma sensação de vazio, de não ter nada, que eu acabava tentando compensar com álcool. acho que o problema é a fixação oral hehehe

to tentando burlar esse aspecto da minha personalidade indo dormir cedo. ontem por exemplo às 19 horas eu já tava deitada, pronta pra ir dormir. levantei à noite e comi um monte, um queijo branco maravilhoso que eu tinha comprado, pipoca, doritos de pimenta mexicana. mas entendo que é melhor pro meu organismo eu comer bem do que encher o cy de cachaça, ir dormir bêbada e acordar de ressaca todo dia. ressaca de comida é melhor do que ressaca de gim.

a parte boa de comer a noite é que eu não acordo com fome. sei que é disfuncional levantar de noite pra comer, mas é o menos disfuncional que eu consigo do jeito que estou indo.

outra parte boa é acordar bem. eu entro no trabalho às 8, então geralmente colocava o relógio pra 06:35 e ia enrolando até 07:20, só escovava os dentes, colocava uma roupa e vinha trabalhar. agora ('agora', nesses dois dias, como se fosse muita coisa kkk) eu to levantando antes do celular tocar pela primeira vez, escovado os dentes, feito minha skincare, me trocado, feito um cafezinho preto antes de sair e chegando 07:30 no trabalho, com tempo pra me atrasar pras consultas em paz kkk

espero conseguir manter essa constância. tanto na alimentação, quanto no cuidado pessoal, quanto no trabalho, e principalmente quanto à abstinência. minha psicóloga está de férias, volta semana que vem, e eu tenho muuuuuita coisa pra conversas com ela. pela primeira vez em muito tempo tô ansiosa pelos dias que estão por vir, uma ansiedade boa, fruto do desejo de melhorar, e não do desejo de tomar a próxima dose.

que permaneça assim :)

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

it's the end of the world as we know it.

 meu final de ano foi ruim.

ruim por coisas que eu mesma fiz e eu mesma busquei, não por causa dos outros. recaí em comportamentos que jurei pra mim mesma que não iam acontecer mais e quase fui internada de novo. a sorte é que eu prometi pra mim mesma que dia 31/12 seria o último dia em que eu faria besteira, iria recomeçar do zero dia 01/01. e assim estou tentando fazer.

eu sei que hoje é só dia 02, mas eu já limpei a minha casa, passei roupa (tentei né, porque o ferro queimou), fiz comida (não saía um feijão caseiro naquela casa há quase 1 ano), voltei a tomar meus remédios. são baby steps, mas acho que tem que começar assim, aos poucos, pra poder ir me fortalecendo e alcançando pouco a pouco o meu objetivo, que é ficar bem sem ter que recorrer a nada pra isso.

sinto falta de ter amigos. eu me afastei demais das pessoas ao meu redor enquanto me fechava na minha esfera de auto comiseração. preciso retomar minhas amizades, fazer novos amigos, resgatar quem eu era antes de ser quem eu sou.

sinto falta de ter um amor. mas esse não é meu foco agora, preciso focar em mim pra poder ser completa e, sendo assim, ser só complementada por outra pessoa, sem depender dela pra ser eu mesma.

terapia recomeça na segunda feira. tenho tanta coisa pra contar pra minha psicologa, e ao mesmo tempo não sinto vontade de falar sobre nada com ela.

e a vida vai seguindo assim, dia a dia, passo a passo.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

we wish you a merry christmas.

 final de ano é uma época complicada pra mim. soma-se ao cansaço acumulado do ano inteiro a sensação de não ter cumprido tudo o que me propus a fazer durante o ano e esse clima irreal de familiaridade e união que me sufocam e me fazem querer que as festas passem logo, acabem logo, e que a vida volte ao normal no dia 2 de janeiro.

mas o que eu mais odeio nessa época de festas é a saudade que eu sinto de como as coisas eram quando eu era criança. sinto falta da casa cheia, da música, da mesa farta, dos tios e primos, da árvore cheia de presentes. sinto muita falta da minha mãe, que adorava o natal e não perdia a oportunidade de decorar toda a casa e organizar a ceia da família. sinto falta da sensação de ter uma família. 

hoje minha família somos meu pai, minha irmã, meu cunhado e eu. não tem uma criança pra animar as festas. não tem mãe, não tem avós, não tem tios, não tem primos. sinto como se eu tivesse me afastado de toda a minha essência ao me afastar da minha família. eu tenho essa tendência de me isolar. pra ser sincera, adoro minha própria companhia, e geralmente não sinto falta da companhia dos outros. mas nessa época do ano eu tenho saudade da família que um dia eu tive - e que nunca mais vai voltar a ser a mesma.

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

recomeço.

 e eis que 11 anos depois eu redescubro esse blog.

foi uma viagem no tempo ler meus posts antigos - alguns pareciam até que não foram escritos por mim. eu tinha uma clareza de ideias e pensamentos que não condiziam com a mente confusa que eu tenho hoje. onde eu parei de ser eu mesma? onde me perdi no caminho e não soube mais encontrar? como eu faço pra poder voltar a ser quem eu era?

acho que sei as respostas melhor do que ninguém. tanta coisa aconteceu nesses 11 anos que seria impossível eu ter permanecido a mesma pessoa. tantos sonhos desfeitos, tantos outros construídos, tantos homens passaram pela minha vida, tantas mulheres. tantas garrafas de gim. tanto que eu não consigo nem começar a catalogar.

resolvi voltar pra esse blog por conta da terapia. minha terapeuta me perguntou uma coisa muito difícil de definir: o que a Jana de 15 anos gostava de fazer que a Jana de 36 não faz mais? e, do nada, apareceu na minha cabeça: escrever. eu sinto falta de escrever, de me expressar. sinto falta de jogar palavras ao vento e deixar elas formarem um emaranhado de fatos, ideias, pensamentos, que, quando juntados, traduzem da melhor forma que consigo expressar aquilo que eu sou.

eu poderia começar um blog novo, do zero. poderia. mas o fato é que eu sinto falta de quem eu era quando escrevia aqui quase todos os dias. sinto falta da jovem que eu era. sinto falta de mim mesma.

então vamos recomeçar. não dá pra retomar do ponto onde parei - como eu disse, tanta coisa mudou nesses 11 anos -, mas posso recomeçar. posso me dar uma nova chance. posso tentar ser euzinha de novo. e é pra isso que eu voltei a escrever.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

thump.

às vezes, eu sinto como se eu pudesse escutar tudo ao meu redor.

ouço as pessoas falando. as mentes delas se agitando. ouço sentimentos, desejos, temores. ouço a cidade. os carros, as ruas, os pássaros e a eletricidade. os canos das casas. a grama crescendo. o esgoto fluindo.

eu também me ouço. ouço meu sangue correndo pelas minhas veias, quente, vermelho, suave. salgado. ouço meus pensamentos correndo rápido pelo meu cérebro. as vontades sumindo em meio às minhas ações. ouço quem eu sou. quem eu devia ser. quem eu nunca foi.

mas também tem o que eu não ouço. amor. bondade. perdão. tem o que eu não sei ouvir. gentileza. poesia. eu. ouço tudo, e nada escuto - especialmente quando, dentre tudo o que eu ouço, tudo o que eu queria ouvir era o thump que meu corpo faria ao se espatifar no chão quando eu cedesse aos meus desejos mais intrínsecos e pulasse do 23o andar.

sábado, 6 de setembro de 2014

inutilia truncat.

uma das coisas mais difíceis que eu tive que aprender a fazer na minha vida foi aprender a me livrar do que não me faz bem. sendo bem honesta, talvez eu ainda não tenha dominado essa arte. 

sou uma pessoa de hábitos. previsível e confiável. gosto de acordar sempre no mesmo horário e realizar as minhas tarefas numa ordem bem estabelecida. tenho os mesmos amigos há anos e fazemos sempre as mesmas coisas. escrevo os prontuários na mesma ordem, com a mesma paragrafação, desde a propedêutica. Sempre leio a revista do final pro começo. pensar em fazer qualquer coisa que pertence à minha rotina de outra maneira é muito difícil pra mim - mas às vezes é necessário.

amizades, por exemplo. algumas amizades são tóxicas. mesmo sabendo disso, eu sempre fui do tipo que queria manter os amigos. já engoli muito sapo fazendo o que os outros queriam, pedindo desculpas sem ter feito nada, lutando pra manter amizades que obviamente não me acrescentam nada. levei alguns anos de terapia pra deixar de fazer isso. hoje, minhas amizades passam por uma análise honesta e criteriosa toda vez que existe algum tipo de crise. eu estou errada? a pessoa está errada? essa amizade está me fazendo bem? se a última pergunta tiver uma resposta negativa, o amigo em questão vai automaticamente pra geladeira. sem rancor. sem briga. sem mágoa. só cortando o mal pela raiz pra evitar que ele se prolongue.

hábitos. hábitos são muito difíceis de serem mudados. trabalho semanalmente na terapia em tentar ser mais flexível com eles, mas tenho falhado miseravelmente nessa tarefa. preciso aprender a me libertar mais, a deixar de lado tudo o que me deixa chata, amarga, irritada e dar espaço pro que me faz uma pessoa melhor. mas como deixar de fazer as coisas da maneira que você sempre fez? não sei. preciso aprender. 

mas, pra mim, o mais difícil é mudar a forma como lido com os meus relacionamentos. sou a pessoa mais cabeça-dura do universo quando me apaixono. gasto tempo, dedicação e amor com o objeto da minha afeição, mas mesmo com todos os esforços, às vezes as coisas não dão certo. e é tão difícil se livrar de algo que você idealizou, mesmo quando você sabe que não vai dar certo... tão doloroso. é fisicamente dolorido ter que dar adeus a alguém que você amou porque essa pessoa já não te faz bem, não te faz feliz - mesmo quando se tem consciência de que essa é a única saída antes de um relacionamento legal virar um amontoado de rancor, de ódio, de mágoa. talvez por isso eu evite me apegar excessivamente às pessoas. porque sei que, cedo ou tarde, inutilia truncat será a única saída.

domingo, 22 de junho de 2014

sobre fuscas e harley davidsons.

na primeira vez em que eu te vi, você estava numas de the doors com aquele cabelo parecido com o do slash, uns jeans surrados que pareciam mais velhos do que os seus 15 anos e jaqueta de couro em pleno verão. eu não gostava do seu cabelo, só que gostei de você e decidi naquele momento que aquele beijo que você me deu no ginásio da escola seria um daqueles beijos que eu jamais esqueceria. eu era uma menina esquisita de 17 anos e cabelo cherry bomb, e você era tão descoladinho e away com as suas camisas de banda que parece impossível que sejamos ainda as mesmas pessoas.

na primeira vez em que eu me apaixonei por você, eu já era muito madura com meus 18 anos recém completados e te achava um pirralho intrometido tocando baixo naquela sua bandinha de rock. eu ficava irritadíssima pensando que um rapaz quase imberbe me fazia pensar em romance - especialmente porque eu sempre soube que um romance entre a gente não tinha nada a ver. deixei passar, você nunca soube, e a gente não perdeu nada por isso.

na primeira vez em que a gente transou, foi desejo e nervosismo e culpa e calor. eu lembro do lençol azul da sua cama e do gosto de tequila na sua boca, mas tudo foi tão esquisito que o resto das memórias se perde numa onda de nervosismo que faz meu estômago revirar. foi bom, eu sei que foi. sempre é bom entre nós. gosto do seu cheiro, gosto do seu gosto, gosto da sua pele e da sua boca, e a gente tem essa química estranha que faz ter vontade de nunca mais sair da sua cama.

na primeira vez em que eu te perdi, eu sequer notei o que havia acontecido. estava sofrendo um dos dramas que só existem na minha cabeça e não notei que você estava ao meu lado, com seu humor ácido e seus braços quentes. e aí alguém soube ver melhor do que eu e, sem eu nem perceber, você tinha ido embora. você não sabe, mas foi doloroso e confuso te perder, porque quando você foi embora, fiquei sentindo como se eu mesma tivesse me perdido.

e agora, na primeira vez em que escrevo sobre você, eu nem sei por que o faço. I mean. teoricamente, eu nem gosto de você. você não sabe direito o que quer da vida. você não tem foco e nem prioridades. num dia gosta de fusca, no outro compra uma harley davidson. você é mulherengo e tem o péssimo hábito de trair suas namoradas comigo. você é independente demais. tem amigos demais. é carismático demais. bebe demais. as nossas personalidades são tão diferentes que parece impossível que ainda estejamos nessa dança desencontrada um pela órbita do outro depois de todos esses anos. mas estamos.

sexta-feira, 7 de março de 2014

solilóquio do embotamento.

Eu acho que quero morrer.

Não me entenda mal. Não é como se eu não quisesse mais viver. Não é como se eu fosse me matar. Só acho que morrer seria mais... Adequado. Sei lá.

De uns tempos pra cá, a vida tem perdido cada vez mais seu brilho pra mim. Nada me comove. Nada me emociona. Não sinto nada diferente. Não quero fazer nada. Não quero ser nada. Não quero o que eu tenho. Não sinto saudade do que tive. Não anseio pelo que vou ter.

O termo que a gente usa na medicina pra isso é... Embotamento. Isso. Embotamento. Uma sensação de não sentir. Uma vida vivida sem viver.

Durante a depressão, tudo o que eu queria era parar de sentir. Queria que as emoções dentro de mim sumissem. Queria criar uma parede intransponível entre a agonia, a tristeza, o desespero e eu mesma. Usei remédio pra isso durante algum tempo. O antidepressivo nada mais faz do que te colocar pra morar dentro de uma bola de equilíbrio e tranquilidade - e para alguém que sentia e sofria o tempo todo, foi um alívio tremendo. Poder respirar. Poder viver.

Mas aí. Aí não sei. Depois de tudo, eu me acostumei a ter medo de sentir.  Acho que meu subconsciente associa sentir e sofrer. Pouco a pouco, fui me treinando para não deixar mais nenhuma das duas coisas acontecerem. Me fechar pras emoções externas era a única forma de sobreviver.

Só que sobreviver não tem sentido se você não tem vontade de viver. Sobreviver assim, sem cor e  sem som e sem luz e sem sabor, só pra sobreviver, é tão vazio quanto morrer.

A diferença é que morrer é mais rápido. E provavelmente muito mais efetivo.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

nina.

nina diz que tem a pele cor de neve
e dois olhos negros como o breu
nina diz que, embora nova
por amores já chorou que nem viúva
mas acabou, esqueceu
nina adora viajar, mas não se atreve
num país distante como o meu
nina diz que fez meu mapa
e no céu o meu destino rapta
o seu
nina diz que se quiser eu posso ver na tela
a cidade, o bairro, a chaminé da casa dela
posso imaginar por dentro a casa
a roupa que ela usa, as mechas, a tiara
posso até adivinhar a cara que ela faz
quando me escreve
nina anseia por me conhecer em breve
me levar para a noite de moscou
sempre que esta valsa toca
fecho os olhos, bebo alguma vodca
e vou...


[nina, chico buarque]